quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A galinha, a flor, o homem e a paciência

Pouco importa quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Depois que o casal galináceo se enamora, é inevitável que uma dúzia de ovos apareça. É como passar a bola de boliche na caçapa de sinuca. Então, da merda dá-se à vida. Dentro daquela fina casca, o futuro pintinho vai se formando. Enquanto gema e clara, é fácil se manter lá. Quando o corpo vai se tornando sólido, a casca deve começar a incomodar. Incomoda, incomoda, incomoda, incomoda. Até que um belo dia o animalzinho perde a paciência e chega à conclusão que ali não dá mais pra ficar. Fórça, geme, pára. Tenta de novo. E finalmente tem que fechar os olhos por culpa do Sol.

O tempo passa, e o pintinho se transforma em uma galinha, ou galo. E como todos os animais, precisa fazer suas necessidades físicas, e o bode expiatório é a terra. Essa, que por sua vez, recebe sementes do ar, dos pássaros e das plantas. Como o chão está adubado, as sementes fecundam. Logo, da merda dá-se à vida. Assim como o ovo, a semente é uma casca, e assim como os dois a terra também. Perde-se a paciência uma vez, para estourar a semente, e perde-se a paciência de novo para perfurar a terra, encontrar o Sol e florescer esbanjando beleza.

Fugindo a lógica, o homem não nasce da merda propriamente dita. Mas, não tem problema. Ele aprende a andar em duas pernas, a falar, a ler e, o mais repugnante, a manter a paciência. Estuda o que não quer, trabalha com o que não gosta. Cria-se então uma casca. Ao invés de tentar quebrá-la, o homem se esconde nela do patrão, da mulher, de si. Entre um copo e outro de alguma bebida ruim, ele até perde a paciência, mas só reclama e tropeça nos próprios pés, até cair no chão. Portanto, para os homens, da vida dá-se à merda.

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